sábado, 21 de maio de 2011

Semear e não colher...

Meu amor pequenino, a mãezinha está cada dia mais fraca nesta procura por ti. Não há meios. Não há esperança. Não há forças. Não há nada.

Durante 9 meses evitei comidas que pudessem eventualmente prejudicar o teu desenvolvimento dentro de mim. Evitei esforços, movimentos, posições para dormir que também eventualmente pudessem causar-te algum dano, por mais pequeno que fosse. No final desses 9 meses senti-te nascer com toda a alegria do mundo que fez esquecer alguma dor física, que no meio dessa alegria, foi, muito sinceramente insignificante. O que importava era que tu estavas ali, perfeitetinho, saudável, com uns lindos olhinhos azuis a olhar para mim... Embalei-te nos meus braços para tu adormeceres e mudei-te as fraldinhas para que estivesses sempre confortável. Continuei, durante os 9 meses em que te amamentei, a evitar comidas que pudessem provocar-te algum problema e até aquelas que pudessem alterar o sabor do leite e que tu pudesses não gostar. Perguntava aos médicos e a mães mais experientes qualquer dúvida que tivesse, para que tu, amor, crescesses feliz e saudável. Vi com alegria os teus primeiros passos e ouvi as tuas primeiras palavras... Tive todos os cuidados na fase perigosa da descoberta depois dos primeiros passos, cuidados com as tomadas eléctricas, com produtos tóxicos... Andava sempre atrás de ti para que não danificasses as coisas e muito menos, te magoasses. Foste muito traquina e espevitado e partias os comandos das televisões, dos Videos e dos DVDs... Eu tinha que estar sempre "de olho"... Pessoas que nem fazem caso disso, mas que hoje se passeiam exibindo os seus filhos, ofereciam-te brinquedos para mais de 3 anos quando ainda tinhas menos idade... E era difícil explicar-te que não podias ficar com eles e ficavas às vezes triste comigo, por não perceberes o porquê de eu não te dar o brinquedo que a prima X tinha oferecido... Não percebias que, se começasses a desmanchar o brinquedo e introduzisses uma pequena peça na boca, não era a prima X ou os filhos dela que corriam perigo... Mas estava lá eu para perceber... Tal como estava lá eu para não te deixar comer certas coisas, com que facilmente as crianças se engasgam quando são muito pequenas... Enquanto isso, a tua avó paterna e todas as tuas primas Xs e Ys gozavam comigo por ter tantos cuidados... Eu seguia o que os médicos me aconselhavam... Para teu bem...

Fui humilhada e insultada pela tua avó paterna por te amamentar em exclusivo até aos 6 meses, quando estava a seguir os conselhos de um médico bastante experiente e cuidadoso...

Foste crescendo e eu levei-te ao Jardim de Infância. Foram dois anos, de certa forma duros, a levar-te a um Jardim de Infância para onde não havia tansportes públicos. Não houve vaga para ti nos Jardins de Infância dentro da cidade e diziam-me que não tinham obrigação de fornecer transporte, visto o Ensino Pré-Escolar não ser obrigatório. Estava presa por esses horários, sem poder fazer mais nada... Mas tudo valia a pena se isso significava o teu bem estar, a tua interação com crianças da tua idade. Era uma alegria participar das festas de Natal, de Carnaval, do Dia da Mãe, de Final de Ano. A tua festa de finalista do Jardim de Infância foi muito bonita... Houve o teatrinho da história "Quem Quer Casar com a Carochinha?" em que fizeste de Gato... Eu estava super orgulhosa de ti. Ensinei-te a dizer "obrigado" sempre que alguém te oferecia alguma coisa, a pedir licença sempre que passavas pelo meio de duas pessoas ou entravas numa casa, a dizer "perdão" sempre que arrotavas, a cumprimentar todas as pessoas quando chegavas a uma casa onde estava um grupo, antes de te fixares a aconversar com alguém...

E quando tu já estavas crescidinho, quando alguns desses perigos que tentei sempre evitar, como de meter coisas impróprias na boca ou mexer em tomadas, já tinham passado, quando o Estado já seria obrigado a ter uma Escola perto de casa para ti, visto teres entrado na escolaridade obrigatória, quando tu ias aprender coisas novas e importantes na escola, que eu estava desejosa de te ajudar a aprender, quando tu estavas a entrar numa fase tão bonita que é a da vida escolar propriamente dita, VIERAM E LEVARAM-TE!!!

Tantas coisas que eu te queria ensinar. Tantos momentos que já perdi de viver contigo, amor. Acabaram-se as festas e os presentes doces do Dia da Mãe, as festas na escola enquanto MÃE, tudo... A minha vida enquanto mãe acabou abruptamente... Hoje é a tua avó paterna que te leva e traz da escola... É ela que participa, orgulhosa, das Festa do Dia da Mãe e diz que para o ano já farás a prenda do Dia da Mãe para ela!

Como podem pensar que apagam mais de 6 anos da vida de uma família assim como quem tira uma espinha da comida que está a comer? Como pode ser possível? Como podem pensar que é possível e como podem achar que isso é a teu favor?? Não te conhecem, a verdade é essa... Não te conhecessem, por enquanto... Mas infelizmente, daqui a algum tempo serei eu que não te conhecerei... A tua vida é passada ao lado de outras pessoas e, cada vez mais, com o tempo, elas serão as tuas referências e eu serei uma desconhecida... Por enquanto, amor, sei que ainda não sou, mas tu és pequenino e, com o tempo, sei que a minha imagem ficará mais ténue para ti... Que pena, João Pedro, que pena...

Tive que abrir mão de uma das visitas para poder ver-te por uma hora no dia dos teus anos... São pessoas humanas que estão a fazer isto? São seres humanos com sentimentos ou a mínima ideia do que isso é? Peço desculpa, mas como cidadã de um país democrático, tenho o direito de discordar...

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